"Olha eu vou lhe mostrar se é que presta esse filme, já que o ingresso está caro e você não quer gastar..."

Há quem diga que a onda de remakes dos clássicos da Disney é uma jogada  preguiçosa do estúdio - ao invés de apostar em novas histórias, o argumento dos críticos a este movimento é de que apostam em histórias requentadas devido à falta de criatividade. Desta diretriz, tivemos obras que se propuseram a dar novas visões ao material original e souberam inovar - com qualidades vacilantes - como Alice no País das Maravilhas (de Tim Burton, 2010), Malévola (com Angelina Jolie, 2014) e Mogli (de John Favreau, 2016, ainda o melhor deles). Porém, tivemos também os que optaram por refazer o clássico apenas adicionando atores reais e atualizando a linguagem, como foi o caso de Cinderela (de Kenneth Branagh, 2015) e do sucesso A Bela e a Fera (com Emma Watson, 2017). Estes últimos, invariavelmente, embora não sejam filmes ruins, perdem de lavada para o carisma das animações pelo simples fato de ser mesmo desleal tentar competir com a magia que uma animação pode passar frente a uma produção convencional. Pois o novo capítulo dessa geração de remakes é o belo Aladdin, do diretor inglês Guy Ritchie (de Sherlock Holmes), que fica num confortável meio do caminho entre estas duas tendências ao nos trazer uma reprodução absolutamente fiel ao original, mas conseguir o feito de ter carisma e magia próprios mesmos nos mostrando um filme que a gente já viu.
Não vou perder tempo e dizer logo que o novo Aladdin (o original é de 1992) é bem legal. É necessário compreender que não dá para esperar ter de novo a maestria do falecido Robbin Willians roubando a cena como o Gênio da Lâmpada ou então a atmosfera mágica da fictícia Agrabah da animação ou mesmo a caricatura cartunesca dos personagens que vimos na infância. Se calibrarmos nossa expectativa nestes termos, é perfeitamente possível se divertir com Will Smith fazendo o melhor gênio possível - funciona! - se encantar com as cores, formas e tons do reino desértico do filme e se deixar levar pelo casal principal Aladdin e Jamisne que convence o suficiente para nos fazer acreditar neles - menos o Jafar, tudo nele é péssimo, mas já chego lá.

Mesmo tendo tudo isso de bom, a obra está longe de ser perfeita. A pior coisa do filme é de longe o Jafar interpretado pelo holandês - de ascendência marroquina - Marwan Kenzari. Tudo nele está deslocado, desde a atuação ao figurino e ele está tão longe de ser interessante como era o vilão do desenho que não vale nem a pena continuar. Os efeitos também poderiam ser melhor acabados, mesmo não sendo necessariamente ruins. Toda a Agrabah é feita por computação gráfica e, por isso, muitos ambientes parecem um pouco falsos a maior parte do tempo - sem falar da polêmica com a forma azul de Will Smith que... bem... é estranha mesmo. O diretor Guy Ritchie, conhecido por thrillers com um certo grau de violência física como o mais recente Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017), compreende a fantasia de Aladdin, mas não é o cineasta mais versátil na hora de filmar cenas musicais. Aliás, músicas, vamos lá.

Todas as canções clássicas retornam repaginadas e com a mesma qualidade, com espaço ainda para músicas novas. As cenas de músicas isoladas, sem grandes coreografias, são as mais fracas sem dúvidas. O Aladdin do egípcio Mena Massoud (bastante convincente) e a Jasmine da descende de indianos Naomi Scott (lindíssima e forte como a Jasmine deveria ser) possuem canções próprias de seus personagens e acabam, nelas, fazendo os números mais bregas do filme - mas a culpa não é deles. Ambos são bons atores e cantam bem de verdade, mas falta ao diretor a experiência com musicais. O resultado são números que em muito lembram os filmes de High School Musical, entregando performances exageradas e com emoções forçadas. Por outro lado, outras cenas reproduzem fielmente o que veio antes podendo abusar da computação gráfica - como as cenas de "Você nunca Teve Amigo Assim" (Friend like Me) e "Um Mundo Ideal" (A Whole New World) - e funcionam bem melhor. 

Destaco, ainda, duas cenas de canções icônicas que destacam outro e talvez o melhor aspecto do longa: a abertura lindíssima com a nova versão de Noites da Arábia (Arabian Nights) e a icônica entrada de Aladdin repaginado ao som de Príncipe Ali (Prince Ali). Diferente das outras, estas duas cenas se dedicam a mostrar a riqueza da cultura do Oriente Médio lendário, das Mil e Uma Noites, das descrições do explorador Marco Pólo ou das histórias do marujo Simbad. O Oriente vibra e transpira em cores, silhuetas, tecidos, texturas, sons, e quase cheiros e sabores também. Há um respeito cultural enorme que afasta de cara as polêmicas com as etnias dos atores do início da produção - ha uma cena de dança espetacular que não existe no filme de 1992 que é o maior exemplo disso. 

Fica claro que o diretor mirou muito mais no famoso musical da Broadway de Aladdin (procurem na internet e vejam as semelhanças) do que no filme original, e isso foi acertado - a peça já resolveu muitos dos desafios visuais da transposição do desenho para o real no teatro desde sua primeira montagem em 2011. Neste sentido, em muitos aspectos, o visual vibrante, as músicas dançantes e o estilo teatral me lembraram do musical Mamma Mia! (de 2008), outro fruto da Broadway para o cinema, em diversos momentos.

Há poucas e boas mudanças na história como o destino do Gênio e a bem-vinda atualização nas ambições de Jasmine que conferem maior credibilidade à personagem e o resultado final diverte. Vale a menção à dublagem brasileira que fez um trabalho incrível e deu a sorte de ter Will Smith como Gênio já que o dublador do Gênio em 1992, o excelente Márcio Simões, é também o dublador oficial do ator no Brasil, o que dá à versão brasileira o dobro de nostalgia aos fãs daqui. Por isso, Aladdin pode até decepcionar alguns, mas com baixa expectativa e coração aberto, consegue divertir desde o fã com maior apego emocional com a animação clássica até sua Tia Cremilda que vai lembrar da novela Caminho das índias o tempo inteiro - aposto. Continuo temendo pelo que farão com o meu O Rei Leão que vem aí (com estréia marcada para julho desse ano), mas Aladdin foi um respiro de confiança no que a Disney está fazendo.

Coeficiente de Rendimento: 3,3/5






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