27 de jun. de 2019
Por Hugo Vinicius Pereira

Crítica: Toy Story 4 - Brincando de Crescer

    
    
    Eu, assim como você, depois de chorar e entender que eu não era mais criança junto com Andy ao assistir Toy Story 3 (2010), dei a franquia dos brinquedos vivos como encerrada com chave de ouro e sem defeitos. Por isso, também como você, eu entoei um sonoro "PRA QUÊ?!" quando anunciaram uma sequência que, ao meu ver, era completamente desnecessária. Pois bem, o problema é que a Pixar ainda é a Pixar e por mais reticente que estivéssemos sobre este novo filme - eu não queria nem assistir, tamanha birra que estava - como todo bom produto da Pixar, ele não pode ser ignorado. A conversa daqui para frente é sobre a grande mensagem de Toy Story 4 (2019): Maturidade. Só bora!
    
    Acredito que o melhor jeito de estruturar uma análise de Toy Story 4 é falar primeiro de seus defeitos para depois focar em suas qualidades e, nesta linha, eu começo dizendo que esperava mais dele - pois é. Mesmo rejeitando a ideia de sua existência desde o início, ainda é Toy Story e a Pixar tem bastante crédito junto ao público - e por este motivo eu não esperava nada menos do que ótimo, o que é sempre um problema. Acaba que o novo capítulo da franquia é acima da média o tempo todo - claro - mas não é particularmente engraçado, emocionante ou cheio de significado - ao menos depois de assistido uma só vez. Seu antecessor, Toy Story 3 é tudo isso, contando com momentos hilários durante toda a produção e um conflito constante que desemboca numa lindíssima lição sobre crescimento. A computação gráfica, preciso dizer, é embasbacante em tons, texturas, cores, formas, iluminação, cabelos, tecidos e tudo que se espera do maior estúdio de animação do mundo - mérito incontestável, mas que não impressiona mais tanto assim. 

    A trama narra mais uma aventura de Woody (Tom Hanks), Buzz (Tim Allen) e companhia numa viagem de carro com sua nova dona, a menininha - um tanto chatinha - Bonnie. Durante esta viagem, Woody precisa proteger Garfinho, o desengonçado boneco feito por Bonnie no jardim de infância - e, por isso, muito importante para ela. Este compromisso os leva a se perder - de novo - e a reencontrar Betty, a pastorinha de porcelana que descobrimos ter sido doada anos antes numa bela cena de abertura. Dentro deste enredo, conhecemos alguns novos personagens e temos muitas cenas daquela ação em escala infantil já famosa nos filmes, mas a história repete alguns dos temas já usados pela franquia - os brinquedos tentando voltar para casa, ou que não foram amados, ou inseridos no contexto de uma creche/parquinho e novamente a metáfora sobre crescimento e saber quando "deixar ir" certas coisas. Toda essa repetição entretém, mas frusta um pouco o expectador que queria ser maravilhado como já foi outras 3 vezes por aqueles personagens.

    O longa seguiria assim até o fim - passando o mesmo sentimento de "bom, mas desnecessário" que Os Incríveis 2 (2018) passou - se não fosse literalmente pela última cena. Depois de uma hora e meia de uma condução pouca coisa melhor do que "legal", Toy Story 4 solta em seus últimos 5 minutos - mesmo! - não só suas cenas mais engraçadas como expõe sua verdadeira mensagem. O que parecia ser a repetição do tema do filme anterior, se mostra ser na verdade a consolidação dele. Diferente de Toy Story 3, o novo filme não é sobre crescer, mas sobre amadurecer.

    Amadurecer é aceitar que você não é mais o que já foi e achar seu lugar enquanto esta criatura nova que se é agora. Mais do que saber "deixar ir", é saber também "deixar ficar". É pautado nesta alegoria que Toy Story 4 se revela uma obra sobre "se encontrar", achar seu lugar no mundo, e entender que você é mais do que dizem que você é - e que é lixo para uns pode ser o tesouro dos outros. É assim que, aos 46 minutos do segundo tempo, Toy Story 4 se justifica enquanto sequência e diz a que veio - um pouco tarde demais para o meu gosto, mas ainda assim emociona e fala diretamente com o público que cresceu e amadureceu junto com aqueles filmes.

    Por tudo isso dá para dizer que Toy Story 4 é uma obra madura, e como tudo que é maduro, deixa a diversão um pouco de lado - não muito, um pouquinho só, mas deixa. Mas amadurecer é isso mesmo, nem tudo vai ser sempre tão legal e se conhecer é o primeiro passo para se aceitar. Como sua Tia Cremilda sempre te disse, a cada momento estamos aprendendo, mudando, evoluindo e por isso "crescer" é um processo que não termina nunca - por assim dizer, tende ao infinito... e além.

Nota: 3,7/5

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